Afinal a torre do castelo não está a cair.
Afinal o verão sempre existe o que desapareceu para sempre foi a primavera.
Afinal sempre vou usar vestidos e mangas cavas e sempre vou ter de fazer a depilação este ano
Afinal vai haver calor e imperial e caracóis.
Afinal vou poder comer o novo magnum dourado a que o Benício faz o anúncio.
Afinal sempre se pode festejar mesmo sem foguetes, baile ou música adequada ao ar livre.
Afinal sobrevivemos estas décadas todas ainda que o 25 de Abril não seja nada do que se esperava.
Afinal estamos todos desiludidos com isto. E afinal continuamos na mesma. (Não se muda! Não se muda!)
Afinal a culpa é nossa.
Afinal ainda cá estamos (parece que é possível).
Afinal não estamos assim tão mal e antigamente é que era duro! (e era!)
Afinal isto aguenta-se mais uns tempinhos assim e logo se vê.
Afinal o 25 de Abril é no dia que sempre foi e o Natal parece que se mantém em Dezembro.
Afinal a liberdade é tanta que a gente perde-se nas possibilidades e preferimos não fazer nada, porque afinal podemos fazer o que quisermos quando quisermos (Somos Livres!), mas não precisa de ser agora.
Afinal o Papa ainda cá vem (que importantes que nós somos!) e o pessoal tem uma folguinha para ver a missa em directo nos quatro canais.
Afinal o Inferno não é aqui. O Papa diz que ele existe. E eu acredito, diz que às vezes, mesmo pertinho de deus, é com cada Inferno!!!!......
Afinal continuamos todos sentados a escrever nos nossos blogues a cabeça a fervilhar e as mãos tão paradinhas... e o cu continua a engordar e as ancas alargar à medida que despachamos pacotes de amendoins para que o tempo passe mais tranquilamente e os quatro canais já não chegam porque dão todos o mesmo.
E afinal... vamos ao mesmo café, à mesma esplanada pedimos a mesma coisa ("Um café e um copo de água, se faz favor"), vamos conseguindo meter 5€ de gasóleo para a voltinha do domingo e o sol ainda é de borla. E quando alguém quiser cobrar, vamos achar natural. É o progresso!
E quando o cu não couber no abismo que cavámos no sofá, compra-se outro. É o progesso.
O que interessa é que...
Afinal ainda cá estamos, isto vai-se andando. Qualquer dia destes tenho de ir à inspecção com o carro e comprar o selo. A ver se não me esqueço do IRS. E a renda. Não me posso esquecer da renda e de ir à EDP. E o tempo passa-se assim, entre pacotes de amendoins e sofás escavados, comandos de botões que nos organizam o cérebro, cus a alargar e gelados que nos convencem porque são bonitos. E brilham.
E afinal é isto. É mesmo só isto.
...e afinal escreves bem para caraças!!! Cumplicidades no alargamento traseiro. Bem hajam os cús com vontade própria. Abreijos de saudades.
ResponderEliminarE há tanto mais para além disso... Mas tu sabes, não sabes? Sabemos todos.O rabo fez-se para palmilhar caminho e o cérebro para pensar, para decidir, por nós próprios, para onde ir. Andamos todos adormecidos demais para a idade que temos, não te parece? Vejo isso em todo o lado e fico um bocadinho triste, também por mim.
ResponderEliminarE parece que é preciso o 25 de Abril para que te dê a revolta e voltes aos textos magnificos, escritos sem pensar muito (digo eu).
ResponderEliminarParabéns pelos teus textos pois a canção diz "todos nós temos Amalia na voz e temos na sua voz a voz de todos nós" eu tenho os meus pensamentos nas tuas palavras e não devo ser a unica.
Beijinhos
Alice
Belo texto mais uma vez. Parabéns. Devias fazer mais...
ResponderEliminarConcordo com as premissas não concordo com as conclusões e doi-me pensar que alguém tão novo se resigne a essa pseudo fatalidade de ficar à espera de não se sabe bem o quê.
O JMBranco no seu FMI questionava-se: «Valeu a pena?» Refereria-se à derrota que, do seu ponto de vista, reprentou o 25 de Novembro, para logo a seguir dizer: «Valeu pois!» Mesmo derrotado no fim, fez tudo para vencer e então o que valeu a pena foi o caminho que fez. É o caminho que se faz para as coisas que verdadeiramente conta; é ele que enriquece. Mas temos de o fazer, com caracóis e imepriais, mas, essencialmente, com projectos de vida também, como ele tinha, errados ou não, mas para nós genuínos, os únicos possíveis, para no fim, mesmo derrotados, podermos gritar a plenos pulmões: VALEU A PENA, PORRA!
Corre para as zonas de desconforto...
ResponderEliminarBulgari: obrigada! vivam os cus inconformados!
ResponderEliminarCharlotte: o problema é esse, é que que vejo nos outros, reconheço em mim, e isso é muito assustador. E dá muito trabalho ir em sentido inverso ao resto...
Alice: Que bom que é ter-te por cá!! Sim, foi sem pensar muito. aparentemente estamos todos de acordo... o engraçado é isso mesmo! Um beijinho muito grande de saudades!!!
Carlos: enche-me de orgulho que mantenhas essas ideias. A sério que sim.
As premissas são estas, as conclusões são mais factos do que propriamente conclusões. É o que vejo. Resignada? Ainda não, pelo menos por completo. Os projectos de vida estão cá, mas é duro!!!
Camolas: inevitavelmente é onde me encontro, permanentemente, em desconforto.