2010/04/26

Balança (que ainda cais.....)

Afinal a torre do castelo não está a cair.
Afinal o verão sempre existe o que desapareceu para sempre foi a primavera.
Afinal sempre vou usar vestidos e mangas cavas e sempre vou ter de fazer a depilação este ano
Afinal vai haver calor e imperial e caracóis.
Afinal vou poder comer o novo magnum dourado a que o Benício faz o anúncio.
Afinal sempre se pode festejar mesmo sem foguetes, baile ou música adequada ao ar livre.
Afinal sobrevivemos estas décadas todas ainda que o 25 de Abril não seja nada do que se esperava.
Afinal estamos todos desiludidos com isto. E afinal continuamos na mesma. (Não se muda! Não se muda!)
Afinal a culpa é nossa.
Afinal ainda cá estamos (parece que é possível).
Afinal não estamos assim tão mal e antigamente é que era duro! (e era!)
Afinal isto aguenta-se mais uns tempinhos assim e logo se vê.
Afinal o 25 de Abril é no dia que sempre foi e o Natal parece que se mantém em Dezembro.
Afinal a liberdade é tanta que a gente perde-se nas possibilidades e preferimos não fazer nada, porque afinal podemos fazer o que quisermos quando quisermos (Somos Livres!), mas não precisa de ser agora.
Afinal o Papa ainda cá vem (que importantes que nós somos!) e o pessoal tem uma folguinha para ver a missa em directo nos quatro canais.
Afinal o Inferno não é aqui. O Papa diz que ele existe. E eu acredito, diz que às vezes, mesmo pertinho de deus, é com cada Inferno!!!!......
Afinal continuamos todos sentados a escrever nos nossos blogues a cabeça a fervilhar e as mãos tão paradinhas... e o cu continua a engordar e as ancas alargar à medida que despachamos pacotes de amendoins para que o tempo passe mais tranquilamente e os quatro canais já não chegam porque dão todos o mesmo.
E afinal... vamos ao mesmo café, à mesma esplanada pedimos a mesma coisa ("Um café e um copo de água, se faz favor"), vamos conseguindo meter 5€ de gasóleo para a voltinha do domingo e o sol ainda é de borla. E quando alguém quiser cobrar, vamos achar natural. É o progresso!
E quando o cu não couber no abismo que cavámos no sofá, compra-se outro. É o progesso.
O que interessa é que...
Afinal ainda cá estamos, isto vai-se andando. Qualquer dia destes tenho de ir à inspecção com o carro e comprar o selo. A ver se não me esqueço do IRS. E a renda. Não me posso esquecer da renda e de ir à EDP. E o tempo passa-se assim, entre pacotes de amendoins e sofás escavados, comandos de botões que nos organizam o cérebro, cus a alargar e gelados que nos convencem porque são bonitos. E brilham.
E afinal é isto. É mesmo só isto.

6 comentários:

  1. ...e afinal escreves bem para caraças!!! Cumplicidades no alargamento traseiro. Bem hajam os cús com vontade própria. Abreijos de saudades.

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  2. E há tanto mais para além disso... Mas tu sabes, não sabes? Sabemos todos.O rabo fez-se para palmilhar caminho e o cérebro para pensar, para decidir, por nós próprios, para onde ir. Andamos todos adormecidos demais para a idade que temos, não te parece? Vejo isso em todo o lado e fico um bocadinho triste, também por mim.

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  3. E parece que é preciso o 25 de Abril para que te dê a revolta e voltes aos textos magnificos, escritos sem pensar muito (digo eu).
    Parabéns pelos teus textos pois a canção diz "todos nós temos Amalia na voz e temos na sua voz a voz de todos nós" eu tenho os meus pensamentos nas tuas palavras e não devo ser a unica.
    Beijinhos
    Alice

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  4. Belo texto mais uma vez. Parabéns. Devias fazer mais...
    Concordo com as premissas não concordo com as conclusões e doi-me pensar que alguém tão novo se resigne a essa pseudo fatalidade de ficar à espera de não se sabe bem o quê.
    O JMBranco no seu FMI questionava-se: «Valeu a pena?» Refereria-se à derrota que, do seu ponto de vista, reprentou o 25 de Novembro, para logo a seguir dizer: «Valeu pois!» Mesmo derrotado no fim, fez tudo para vencer e então o que valeu a pena foi o caminho que fez. É o caminho que se faz para as coisas que verdadeiramente conta; é ele que enriquece. Mas temos de o fazer, com caracóis e imepriais, mas, essencialmente, com projectos de vida também, como ele tinha, errados ou não, mas para nós genuínos, os únicos possíveis, para no fim, mesmo derrotados, podermos gritar a plenos pulmões: VALEU A PENA, PORRA!

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  5. Corre para as zonas de desconforto...

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  6. Bulgari: obrigada! vivam os cus inconformados!

    Charlotte: o problema é esse, é que que vejo nos outros, reconheço em mim, e isso é muito assustador. E dá muito trabalho ir em sentido inverso ao resto...

    Alice: Que bom que é ter-te por cá!! Sim, foi sem pensar muito. aparentemente estamos todos de acordo... o engraçado é isso mesmo! Um beijinho muito grande de saudades!!!

    Carlos: enche-me de orgulho que mantenhas essas ideias. A sério que sim.
    As premissas são estas, as conclusões são mais factos do que propriamente conclusões. É o que vejo. Resignada? Ainda não, pelo menos por completo. Os projectos de vida estão cá, mas é duro!!!

    Camolas: inevitavelmente é onde me encontro, permanentemente, em desconforto.

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